“Universidade para poucos” é nova polêmica da coleção do ministro Milton Ribeiro
“Universidade, na verdade, ela deveria ser pra poucos nesse sentido de ser útil à sociedade”. Foi assim que o ministro da educação, Milton Ribeiro, voltou a expor a sua visão elitista e excludente da educação. A declaração foi dada durante entrevista à TV Brasil, ao defender que o grande filão do futuro serão os institutos federais voltados à formação técnica. “Tem muito engenheiro ou advogado dirigindo Uber porque não consegue colocação devida”, complementou Ribeiro.
E este não foi o único ataque. A participação no programa de televisão resultou em outras intimidações ao ensino brasileiro e aos professores.
Professores querem escola fechada
Durante a entrevista, o ministro voltou a atacar os professores que lutam por um retorno seguro às atividades presenciais. “Infelizmente, alguns maus professores fomentam a vacinação deles, que foi conseguida; agora [querem a imunização] das crianças; depois, com todo o respeito, para o cachorro, para o gato. Querem vacinação de todo jeito. O assunto é: querem manter escola fechada”, disse Ribeiro.
Não é a primeira vez que o mandatário do MEC solta bravatas do tipo, já havia, inclusive, feito pronunciamento na TV aberta para defender a volta imediata às aulas presenciais. Mas, enquanto o discurso é um, a prática outra. Universidades federais sofrem com o corte acentuado de verbas o que impede não só um planejamento seguro como praticamente descarta um retorno nos próximos meses. Na educação, básica, o MEC lançou apenas um programa relacionado à pandemia e, nos primeiros meses deste ano, os recursos para essa área caíram quase 40%.
Ataque à autonomia universitária
Na entrevista, também sobrou para os reitores. Atacando diretamente na autonomia universitária e fazendo coro à patrulha ideológica que ronda a educação brasileira, Ribeiro disse que os dirigentes das instituições federais de ensino não podem ser “esquerdistas”.
Histórico de declarações polêmicas
As declarações dadas durante a entrevista desta semana estão longe de serem as primeiras polêmicas no currículo do ministro. Em setembro do ano passado, Ribeiro afirmou que pessoas LGBTs são frutos de famílias desajustadas: “acho que o adolescente que muitas vezes opta por andar no caminho do homossexualismo (sic), tem um contexto familiar muito próximo, basta fazer uma pesquisa. São famílias desajustadas, algumas falta atenção do pai, falta atenção da mãe. Vejo menino de 12, 13 anos optando por ser gay, nunca esteve com uma mulher de fato, com um homem de fato e caminhar por aí. São questões de valores e princípios”.
Antes mesmo de assumir o cargo, já era conhecido por falas inacreditáveis. Durante uma entrevista concedida em 2013 , ‘explicou’ o feminicídio de uma adolescente de 17 anos por um homem de 33 anos com as seguintes palavras: “nesse caso específico, acho que esse homem foi acometido de uma loucura mesmo. E confundiu paixão com amor. São coisas totalmente diferentes. E ele, naturalmente movido por paixão… Paixão é louca mesmo”. Em um flagrante atentado ao Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA), Ribeiro defendeu que crianças sejam severamente castigadas, pois “a correção é necessária para a cura”. Completando a lista de, em 2018, afirmou que as universidades incentivavam a “prática sem limites de sexo”.
Muitas declarações, poucas ações
Enquanto coleciona “polêmicas”, Milton Ribeiro se silencia sobre assuntos, de fato, relevantes, como os cortes orçamentários, o menor número de inscritos do ENEM em 16 anos e o veto do presidente Bolsonaro à lei que garantiria internet gratuita a professores e estudantes da rede pública.
Sobre o primeiro assunto, por exemplo, já apelou a argumento reiteradamente desmentidos, como o de que a redução orçamentária é necessária para o pagamento do auxílio-emergencial. Em visita à UFV este ano, questionado sobre o tema, limitou-se a dizer: “sobrará dinheiro sim (…) no momento oportuno”.
*Crédito da foto em destaque: reprodução internet
(Assessoria de Comunicação da ASPUV)