Nota de repúdio da Aspuv à perseguição docente
A perseguição a professores universitários tem se tornado uma constante e acendeu o alerta para o ataque às liberdades de expressão, de pensamento e de cátedra no Brasil. Casos recentes em diferentes instituições de ensino expõem o autoritarismo vigente no país e a tentativa de desqualificação do papel e da importância da universidade pública.
O episódio mais recente foi registrado na Universidade Federal de Santa Catarina (USFC). A Polícia Federal abriu inquérito para apurar a conduta do docente Áureo Mafra de Moraes, chefe de gabinete da Reitoria. O professor é investigado após ter feito críticas à operação, que apurava o suposto desvio de verbas da Educação à Distância da universidade e levou ao suicídio do ex-reitor da instituição, Luiz Carlos Cancellier de Olivo, no ano passado. Cancellier se matou após ser detido sem acusações justificadas e condições de se defender publicamente em igual proporção. Vale lembrar que o relatório final da referida operação não citou qualquer indício de que o ex-reitor teria se beneficiado financeiramente com o suposto esquema.
Dias antes, os alvos foram três professores da Universidade Federal do ABC (UFABC). A instituição abriu uma sindicância contra Gilberto Maringoni, Giorgio Romano e Valter Pomar para apurar o lançamento do livro de autoria do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, A verdade vencerá, realizado na universidade. A sindicância foi instaurada após uma denúncia anônima encaminhada à corregedoria da UFABC.
Já na Universidade Federal de Alfenas (Unifal), o professor Luciano Martorano foi exonerado sem antes receber qualquer outra penalidade ou ter a chance de apresentar ampla defesa, como prevê a legislação brasileira. Martorano é um respeitado cientista político, conhecido como grande estudioso e tradutor da obra de Karl Marx.
Esses casos recentes se somam a outros registrado desde o ano passado como a tentativa de censura ao professor da Universidade de Brasília (UnB), Luis Felipe Miguel, devido à oferta da disciplina O golpe de 2016 e o futuro da democracia no Brasil; a perseguição ao docente da Universidade Federal de Ouro Preto (UFOP), André Mayer, por desenvolver estudos sobre o marxismo; e a condução coercitiva de integrantes da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG) sem chance de defesa pública durante a operação da Polícia Federal Esperança Equilibrista, transformada em um verdadeiro espetáculo midiático.
A diretoria da Seção Sindical dos Docentes da Universidade Federal de Viçosa (Aspuv) manifesta o seu mais veemente repúdio a essas ações. Acreditamos que são casos claros de perseguição ideológica e censura, vindos de seguimentos conservadores e a serviço dos donos do poder econômico no Brasil. Além disso, junto a políticas como o corte de verbas do Governo Federal, constituem-se uma empreitada, que tem o objetivo de desmoralizar e sucatear as universidades públicas, abrindo, dessa forma, o caminho para a completa privatização do ensino superior brasileiro.
Solidarizamo-nos com os colegas docentes vítimas de perseguição e reiteramos o nosso compromisso com a construção permanente de uma universidade autônoma, plural e comprometida com o desenvolvimento do país e a formação de cidadãos críticos.
A Aspuv é contra a mordaça! Sigamos juntos na defesa da universidade pública de qualidade!
Diretoria da Aspuv
Gestão 2018-2020