Fome avança e já atinge 33,1 milhões de brasileiros
Mais de 33 milhões de brasileiros e brasileiras passam fome. O número representa um salto de 14 milhões frente ao total registrado no fim de 2020 e consta no 2º Inquérito Nacional sobre Insegurança Alimentar no Contexto da Pandemia da Covid-19 no Brasil, produzido pela Rede Brasileira de Pesquisa em Soberania e Segurança Alimentar e Nutricional (Rede Penssan). Os dados mostram que o país retrocedeu 30 anos no combate à fome, voltando aos índices registrados na década de 1990.
A pesquisa apontou ainda que 58,7% da população está em situação de insegurança alimentar em algum grau. Em números absolutos, são 125,2 milhões de pessoas sem o acesso regular e permanente à comida, seja de forma leve (28%), moderada (15,2%) ou grave (15,5%). Em outras palavras: apenas quatro em cada dez domicílios conseguem manter o acesso pleno à alimentação. O estudo anterior anterior mostrava que 55,2% dos brasileiros estavam em insegurança alimentar, o equivalente a 116,8 milhões de pessoas.
Desigualdades regionais, de raça e gênero
A insegurança alimentar atinge de forma diferente as regiões do Brasil, sendo que o Norte e o Nordeste possuem os índices mais alarmantes. No Norte, 71,6% dos moradores estão em situação de insegurança alimentar, sendo 25,7% das famílias passando fome. No Nordeste, os percentuais são 68% e 21%, respectivamente.
A situação também é mais grave entre os habitantes de áreas rurais. Nesse locais, a insegurança alimentar atinge mais de 60% dos domicílios, sendo que 18,6% das famílias convivem com a fome. A situação impacta de forma severa, inclusive, os lares de quem produz comida. Entre os agricultores familiares, a taxa dos que passam fome é de 21,8%.
As desigualdades de raça e gênero também ficam evidentes. A restrição de alimentos em qualquer nível é maior em lares chefiados por pessoas pretas ou pardas (65%) e mulheres (64%).
A fome também dobrou nas famílias com crianças menores de dez anos: de 9,4% em 2020 para 18,1% em 2022. Na presença de três ou mais pessoas com até 18 anos no grupo familiar, a fome atingiu 25,7% dos lares. Já nos domicílios apenas com moradores adultos, a segurança alimentar chegou a 47,4%, número maior do que a média nacional.
Causas vão além da pandemia
A pandemia potencializou um quadro, que já se desenha no Brasil: de aumento da pobreza e da insegurança alimentar. Esse cenário se deve ao desmonte de políticas públicas voltada, por exemplo, ao fomento da agricultura familiar e ao combate à fome; a desvalorização sistemática do salário mínimo nos últimos anos; a retirada dos direitos dos trabalhadores, por meio de medidas como a reforma trabalhista e lei de terceirizações; e a inflação galopante.
“O crescimento da pobreza, somado à inflação dos preços dos alimentos e ao desmonte de políticas efetivas só vem acentuar as desigualdades e levar à miséria grupos sociais e regiões historicamente mais afetados. Por trás da fome, temos o flagelo sobre as crianças, as mulheres e a população negra, acrescido a isso o negacionismo frente ao problema climático, que tanto prejudica a produção agrícola e tem relação direta com a Insegurança Hídrica”, destaca a Inquérito, que pode ser lido na íntegra aqui.
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