Aspuv

Seção Sindical dos Docentes da UFV
Diretor sindical e professor da UFPA são intimidados por defesa de trabalhadores rurais em região de intenso conflito

Dois professores da Universidade Federal do Pará (UFPA) estão sendo intimidados por ruralistas e grandes fazendeiros do estado após a gravação de um vídeo, no qual declaram apoio à luta dos trabalhadores rurais do município de Anapu (PA). Anderson Serra é docente no campus Altamira e Gilberto Marques é o atual diretor-geral da ADUFPA, sindicato que representa os professores da instituição.

Segundo divulgado pela ADUFPA, em mensagens e áudios vazados por aplicativos de celular na última terça-feira (10), Anderson e Gilberto são chamados de “bandidos”, “vagabundos” e ainda acusados de “promover a desordem e incitarem ocupações de terras”. Os autores das ameaças chegam a citar, estranhamente, casos de lideranças que foram assassinadas mesmo tendo “costas quentes”. Também defendem que os professores sejam enquadrados na Lei de Segurança Nacional (LSN).

Na troca de mensagens, ainda afirmam que irão repassar o vídeo a uma pessoa chamada Xavier, provavelmente Carlos Xavier, presidente da Federação da Agricultura do Pará (Faepa), para que ele dê entrada a uma representação judicial contra os docentes. Não é possível identificar os autores das mensagens e áudios.

Vídeo de apoio

As intimidações começaram após uma visita à comunidade Flamingo, em Anapu. Na oportunidade, os docentes gravaram um vídeo condenando a violência no campo e defendendo a vida dos agricultores e a luta pela reforma agrária, de forma que os trabalhadores rurais possam ter direito de plantar e colher em paz.

Segundo o professor Gilberto, o clima no local é tenso. “Apesar da apreensão, há muita disposição para a luta. Movimentos indígenas, quilombolas, ribeirinhos e de agricultores estão organizando lutas na Amazônia e seguiremos dando nosso apoio”, afirmou o professor, que está na região ministrando disciplinas pela UFPA.

Uma nota de solidariedade aos docentes foi lançada por dezenas de entidades. No documento, as organizações cobram que os conflitos na comunidade Flamingo sejam solucionados, garantindo às famílias o direito à terra. “Essa situação de violência em Anapu e região Trans-Xingu faz-nos sentir coagidos, intimidados e com nossas vidas ameaçadas, cerceando o nosso direito de defesa daqueles que mais precisam. Não podemos ser vistos como criminosas e criminosos ou transgressores da lei só porque nos colocamos ao lado de trabalhadores e trabalhadoras da terra e por não concordarmos com o latifúndio, que por décadas vem fomentando a violência no campo e ceifando muitas vidas”, destaca o texto.

Conflitos em Anapu

O município de Anapu acumula conflitos pela terra e assassinatos no campo há décadas. Em 2005, a missionária norte-americana Dorothy Stang foi executada quando lutava pela constituição dos Projetos de Desenvolvimento Sustentável (PDS). Em 2018, outra liderança religiosa, Padre Amaro, foi criminalizada e presa. Mais recentemente, neste mês de dezembro, o agricultor Márcio Reis e o conselheiro tutelar Paulo Anacleto também foram assassinados. Ambos tinham ligação com a luta pela terra na região.

Um dos pontos atuais de maior tensão fica no travessão da comunidade Flamingo, onde uma grande área de terra, originalmente pública, está sob o controle de um único fazendeiro. Os trabalhadores rurais se assentaram em uma pequena parte dessa área (lotes 96 e 97) e ganharam o direito à sua posse na justiça, que também ordenou que o fazendeiro se retirasse dos lotes.

O prazo inicial para a saída foi de dois meses, mas o fazendeiro permanece na área. Ele conseguiu estender o período por mais dois meses e, no último dia 5 de dezembro, junto com a Polícia Civil, prendeu dois trabalhadores rurais sob a acusação de crime ambiental, quando eles faziam uma cerca para impedir que os gados do fazendeiro comessem a plantação das famílias.

Entre os novos ameaçados de morte na área está Erasmo Teófilo, está uma jovem liderança da comunidade Flamingo, cadeirante, que no mês de outubro denunciou as ameaças que vem sofrendo durante o seminário Amazônia, entre saques e resistências, promovido pela ADUFPA no campus da UFPA em Belém.

A falta de respostas do poder público diante das ameaças tem feito fazendeiros e grileiros avançarem em suas intimidações, não respeitando mais sequer as atividades que ocorrem dentro dos espaços da universidade. Em novembro, invadiram o evento Amazônia, centro do mundo, no campus de Altamira, que reunia indígenas, ribeirinhos, agricultores e outros trabalhares rurais para discutir formas de preservar a floresta, os rios e a vida. “Se o governo de ultradireita e latifundiários é forte, mais forte seremos nós se conseguirmos a solidariedade dos trabalhadores e trabalhadoras do Brasil”, aponta Gilberto, defendendo o fortalecimento das redes de solidariedade e afirmando que a ADUFPA permanece firme nas lutas em defesa dos direitos dos povos da Amazônia.

Encaminhamentos jurídicos

As mensagens e áudios já foram repassadas à Assessoria Jurídica da ADUFPA e à Comissão de Direitos Humanos da Ordem dos Advogados do Brasil (OAB), para o devido acompanhamento. Uma reunião com o Ministério Público Federal (MPF) de Altamira também está agendada para esta sexta-feira (13).

*Na foto em destaque, trecho do vídeo gravado pelos professores.

(ADUFAP com edições da Assessoria de Comunicação da ASPUV)

Deixe um comentário

Seu endereço de e-mail não será publicado. Os campos necessários são marcados com *.