Correios em greve: por que ser contra a privatização da empresa?
Trabalhadores dos Correios de todo o país entraram em greve por tempo indeterminado. A decisão foi tomada na última segunda-feira (17) pelas bases de 36 sindicatos e federações, que representam a categoria. Já no mesmo dia, funcionários cruzaram os braços.
Os Correios estão no pacote de privatizações do ministro da economia, Paulo Guedes, com possibilidade de venda ainda este ano. Além da defesa do caráter público da empresa, os trabalhadores exigem o cumprimento de acordo coletivo. Das 79 cláusulas previstas, o governo quer extinguir 70, segundo a Federação Nacional dos Trabalhadores em Empresas de Correios e Telégrafos e Similares (Fentect). Até mesmo o vale alimentação foi retirado, de igual forma o auxílio-creche, licença maternidade de 180 dias, ticket nas férias, adicional de distribuição e coleta externa de 30%, pagamento de adicional noturno e horas extras, entre vários outros. Benefícios essenciais para a categoria, que recebe um dos salários mais baixos entre os empregados das estatais, com média inferior a dois salários mínimos.
Outra pauta de reivindicações está relacionada à proteção e segurança dos trabalhadores na pandemia. Ao mesmo tempo em que cresceu a demanda de serviços oferecidos pelos Correios, o número de funcionários diminuiu. Sindicatos precisaram acionar a justiça para que fossem distribuídos equipamentos básicos como máscaras e álcool em gel. Cerca de 120 trabalhadores dos Correios já morreram em função da Covid-19, segundo levantamento das entidades.
Por que lutar contra a privatização dos Correios?
Os Correios vêm sofrendo com sucessivas políticas de desmonte. Há oito anos, a empresa possuía 128 mil ecetistas e, hoje, atua com apenas 99 mil. Apesar dos vários ataques, registrou lucro nos últimos três anos e é autossuficiente, ou seja, não depende de recursos do orçamento federal. A Fentect projeta lucro de R$ 800 milhões para 2020.
Além disso, é um serviço estratégico, uma vez que engloba todo o território nacional. A empresa é a responsável pela entrega de remédios, vacinas, materiais escolares e outros itens indispensáveis. Os Correios são ainda o único acesso bancário em 30% dos municípios e, em 60%, os únicos representantes da União, realizando importantes serviços, como o cadastro para o auxílio emergencial.
Tamanhas capilaridade e organização são usufruídas pelas próprias transportadoras privadas, que usam os Correios para entrega das encomendas nos locais mais distantes, uma vez que não têm uma malha que atinja todo o país ou não se interessam em atuar em áreas mais longínquas e periféricas. Ou seja, em uma possível privatização áreas mais remotas tendem a ficar desassistidas.
Poucos países venderam o seu serviço postal. Aqui no Brasil, defensores usam recorrentemente o exemplo da Alemanha. No país europeu, no entanto, mesmo após um longo processo, a venda implicou o aumento em até 400% no preço dos serviços para consumidores comuns e no fechamento de 38 mil postos de trabalho, segundo jornal Deutsche Welle.
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– Rádio ASPUV #35 Privatizações
*Crédito da foto em destaque: Marcelo Camargo – Agência Brasil
(Assessoria de Comunicação da ASPUV)