Artigo: “Duas fábulas e uma verdade”
Tancredo Almada Cruz*
Conta uma fábula bem conhecida que um rei extremamente vaidoso ordenou ao seu costureiro que lhe fizesse a vestimenta mais bela que pudesse existir. Após várias tentativas para atender ao pedido de Sua Majestade sem obter sucesso, o costureiro decidiu iludi-lo, dizendo ter feito a veste mais bela jamais vista. Fingiu vestir o monarca com uma roupa mágica que só poderia ser vista por pessoas justas e leais ao Reino. Em seguida, levou-o até a sala do trono onde a roupa invisível foi elogiada por toda a corte composta por bajuladores. A alegria do monarca foi tão grande que decidiu sair às ruas para que fosse admirado pelos seus súditos. Ao desfilar diante do povo, uma criança, com a pureza peculiar a todas as crianças, gritou: O REI ESTÁ NU! E a farsa se desfez.
Algo semelhante ocorreu no Brasil. O grupo que depôs a Presidente Dilma, acusada de conduzir um governo perdulário e corrupto, iludiu a população prometendo superar a crise com um governo austero e probo. Rapidamente, a farsa foi desfeita. As estatísticas oficiais demonstraram queda do emprego, aumento do déficit público, redução dos programas sociais, aumento da miséria, além de outros números indicando o aprofundamento da crise. Em paralelo, as investigações demonstraram que os corruptos, infiltrados no governo anterior, assumiram postos de comando no novo governo e continuaram roubando com maior avidez.
O IBGE e a PGR gritaram: O Rei está nu!
Outra fábula, esta pouco conhecida, conta que um passarinho bateu à porta do céu, insistindo para falar com Deus. São Pedro, irritado com a insistência do pássaro, indagou: O que você quer aqui? Diga logo.
– Quero pedir que faça o Boi voar.
– Boi voar? Para que?
– Para que ninguém se importe com as minhas cagadinhas.
Em triste espetáculo, a Câmara Federal impediu que o presidente Temer fosse julgado por corrupção passiva pelo Supremo Tribunal Federal. A explicação para este fato tem várias motivações. Há quem diga que os votos foram motivados pelos saborosos jantares oferecidos pelo Palácio. Outros alegam que os deputados foram comprados por emendas, anistias fiscais e, até mesmo, por cargos para seus apadrinhados. Talvez, essa fábula possa explicar a lógica de votos tão absurdos: “Se protejo quem é suspeito de crimes graves, ninguém vai se importar com meus pequenos deslizes”.
A verdade é que, após o golpe do ano passado, o País vive um enorme retrocesso em todos os sentidos, seja na ética, na política e na justiça. Os brasileiros saberão reverter este quadro.
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*Professor aposentado do Departamento de Economia da UFV. Sindicalizado à Aspuv desde 1976, quando ingressou na UFV. Atualmente, integra o conselho deliberativo da seção sindical
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