Economia patina e trabalhadores pagam a conta, diz DIEESE
O Departamento Intersindical de Estatística e Estudos Socioeconômicos (DIEESE) lançou um boletim especial em referência ao Dia Internacional do Trabalhador e da Trabalhadora (1º de maio). O documento conclui que a “economia patina, com escolhas do governo, resquícios da pandemia e crise internacional, e trabalhadores pagam a conta”.
De acordo com a publicação, somente após mais de dois anos de pandemia da covid-19, o mercado de trabalho voltou a mostrar sinais de recuperação e o desemprego tem caído lentamente. Entretanto o país sofre com a crescente inflação, os impactos da guerra na Ucrânia na economia internacional e “a inação de um governo mais preocupado em agradar as bases políticas do que em dar respostas concretas para os problemas da população”.
Desemprego
O boletim afirma que, no 4º trimestre de 2021, havia mais de 12 milhões de brasileiras e de brasileiros desempregados e procurando trabalho. Outros 4,8 milhões tinham desistido de procurar devido à falta de perspectivas, uma situação chamada de desalento. Ou seja, quase 17 milhões de pessoas gostariam de trabalhar, mas não conseguiam ou simplesmente desistiram. Entre os que trabalhavam, 7,4 milhões estavam subocupados por insuficiência de horas trabalhadas..
Desprotegidos
Durante a pandemia, as trabalhadoras e os trabalhadores sem proteção trabalhista ou previdenciária foram os mais afetados. Agora, no entanto, boa parte da recuperação do mercado de trabalho ocorre por meio justamente das contratações para esses postos de trabalho sem garantias. No fim do ano passado, 34 milhões de pessoas estavam em ocupações sem proteção, o equivalente a 35% da mão de obra. O número de desempregados era elevado e, entre os ocupados, um em cada três estava em postos desprotegidos ou precisava trabalhar mais.
Rendimento médio e inflação
O poder de compra dos brasileiros também vem reduzindo. A inflação faz com que os salários percam valor a cada mês. O rendimento médio de quem trabalhava era de R$ 2.377 no fim de 2021. No entanto cerca da metade dos ocupados (54%) ganhava R$ 1.500 ou menos. Durante a pandemia, o rendimento médio caiu 8%. Entre o 4º trimestre de 2019 e o 4º trimestre de 2021, a perda real foi de R$ 208. Nesse período, apenas Piauí, Sergipe e Amapá registraram aumento do rendimento médio real.
Desde meados de 2020, a inflação tem subido todo mês, quase ininterruptamente. Em março de 2022, o Índice Nacional de Preços ao Consumidor, do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (INPC-IBGE) chegou a quase 12% ao ano.
A queda no poder de compra dos trabalhadores é agravada, conforme o DIEESE, porque os preços dos produtos da cesta básica subiram ainda mais do que a inflação geral. Itens básicos como óleo, café e tomate sofreram aumentos expressivos entre 2020 e 2022. O valor médio de um botijão de gás, que era de R$ 70 no início de 2020, subiu para R$ 109 em março de 2022, uma alta de 57% em dois anos. O elevado preço da carne também acarretou mudança nos pratos dos brasileiros. Em 2021, o consumo desse item, no Brasil, foi o menor dos últimos 25 anos.
Reajuste salarial
O cenário de aceleração da inflação tem impactos imediatos na perda do poder de compra da população e também dificulta a negociação de reajustes salariais, que deveriam ser cada vez maiores para compensar a inflação. Em abril de 2022, os salários precisariam ter sido reajustados em 11,7% para repor as perdas inflacionárias dos 12 meses anteriores. Em abril de 2020, no início da pandemia, a correção necessária era de 3,3%. Como resultado, a quantidade de reajustes inferior à inflação cresceu de 23,7%, em 2019, para 47,3%, em 2021. No último ano, apenas 15,6% das negociações salariais alcançaram ganhos reais.
Por fim, segundo o DIEESE, a reversão desse cenário de gravidade econômica depende do fortalecimento das entidades sindicais. “A atuação dessas organizações na ampliação dos direitos individuais e coletivos é fundamental”, afirma o estudo, que pode ser lido na íntegra aqui.
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(Assessoria de Comunicação do ANDES-SN com edições da ASPUV)