No mês da mulher, ASPUV homenageia sindicalistas brasileiras
No mês em que se celebra o Dia Internacional da Mulher (08 de março), a ASPUV resgata a memória de sindicalistas brasileiras, mulheres que escreveram seu nome na história do movimento de trabalhadoras e trabalhadores do país.
A própria celebração tem a sua origem ligada à luta das operárias. Apesar de oficializada apenas em 1975 pela Organização das Nações Unidas (ONU), traz como antecedentes mobilizações de operárias no fim do século XIX e início do século XX. Uma série de protestos protagonizados pelas trabalhadoras levou a histórica militante alemã Clara Zetkin a propor, em 1910, a criação de um Dia Internacional da Mulher no II Congresso Internacional de Mulheres Socialistas, realizado em Copenhagen. O 8 de março veio a se consagrar efetivamente como um dia dedicado à luta das mulheres trabalhadoras em 1917, em função de protesto realizado na Rússia, que ficou conhecido pelo nome Pão e Paz. Na ocasião, aproximadamente 90 mil operárias manifestaram, entre outros, contra as péssimas condições de trabalho e a fome.
Mulheres nos sindicatos brasileiros
Estudos mostram que as mulheres estão presentes nas organizações sindicais brasileiras desde o século XIX. Assim como em outros ambientes, no entanto, a presença delas não era sempre respeitada e, apesar da participação, persistia a dificuldade de acesso a cargos de direção.
Pesquisas históricas apontam que elas estiveram em importantes momentos do sindicalismo nacional, como a primeira greve geral do país, em 1917, que teve, inclusive, como um de seus antecedentes a denúncia de tecelãs de que sofriam abusos. Também há registros da luta das mulheres em busca da incorporação dos seu direitos à CLT.
A presença feminina nas organizações sindicais faz-se ainda mais fundamental quando lembramos que é longo o caminho em busca de condições iguais no mercado de trabalho. Um estudo do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) apontou que as mulheres ganhavam menos do que os homens em todas as ocupações pesquisadas. Em média, as trabalhadoras recebiam 20,5% a menos. Segundo projeções da Organização Internacional do Trabalho (OIT), pelo ritmo atual, a equiparação ocorrerá apenas em 2086.
Sindicalistas brasileiras
A ASPUV selecionou quatro sindicalistas brasileiras, cujas atuações foram marcantes no movimento de trabalhadores. Elas ilustram uma série de cards e artes que o sindicato divulgará ao longo do mês. Confira quem são:
Margaria Maria Alves (1933-1983)
Assumiu, em 1973, o Sindicato dos Trabalhadores Rurais de Alagoa Grande (PB), tendo atuação fundamental na luta por direitos básicos, como férias e carteira assinada. Durante a sua gestão, implantou um projeto de alfabetização para adultos e também militou pela erradicação do trabalho infantil na lavoura. Foi assassinada com um tiro de espingarda a mando de fazendeiros da região. Sua luta inspirou a Marcha das Margaridas, movimento que reúne trabalhadoras rurais de todo o país desde 2000.
Laudelina de Campos Melo (1904-1991)
Fundadora da primeira associação de trabalhadores domésticos do país, em 1936, Laudelina esteve à frente de diversas lutas pela categoria, como a regulamentação dos seus direitos, e também se destacou pelo combate ao preconceito racial. Sua experiência a levou a auxiliar na fundação de associações/sindicatos em diferentes partes do país. Morreu aos 86 anos, deixando a sua casa para o sindicato de Campinas (SP).
Júlia Santiago (1917-1989)
Ainda adolescente, ingressou no movimento sindical, tendo sido uma das fundadoras do Sindicato de Fiação e Tecelagem de Pernambuco. Lutou arduamente pelos direitos dos operários, como a implantação da CLT. Sua atuação também foi marcada pela luta pelas mulheres. Exemplo foi a defesa da cobrança de tempos distintos de aposentadoria para as trabalhadoras. Em 1947, foi a primeira mulher eleita vereadora em Recife (PE).
Ismene Mendes (1956-1985)
Desde pequena, acompanhava o pai em reuniões sindicais e de camponeses. Na juventude, mudou-se para Uberlândia (MG), onde estudou Direito. Antes mesmo de se formar, prestava assessoria jurídica gratuita a trabalhadores rurais. Após a graduação, tornou-se oficialmente advogada do sindicato. Durante uma emboscada, foi estuprada e ferida. Em pleno período da Ditadura Militar, a polícia a acusou de simulação. Poucos dias depois, foi encontrada agonizando e morreu. A versão oficial tratou o caso como suicídio. Hoje, movimentos sociais e sindicais lutam para que a verdadeira história venha à tona e Ismene tenha o seu legado reconhecido. Atualmente, Ismene dá nome à Comissão da Verdade do Triângulo Mineiro e Alto Paranaíba e há um busto seu na Faculdade de Direito da Universidade Federal de Uberlândia (UFU).
Mulheres na ASPUV
Ao longo dos seus 56 anos, a ASPUV teve sete presidentas, incluindo a atual, Junia Marise. A primeira mulher à frente da entidade foi a professora Lúcia Maffia, em 1983. Em 2018, ela gravou um depoimento ao setor de comunicação do sindicato, relembrando a sua atuação. A entrevista pode ser conferida aqui.
Atualmente, metade da Diretoria Executiva são mulheres. No Conselho Deliberativo, a proporção é ainda maior: são seis dos nove integrantes. Entre os funcionários do sindicato, a predominância também é feminina, 70%, incluindo a mais antiga de casa, a recepcionista Marlene Campos.
Mulheres no Andes-SN
O Sindicato Nacional dos Docentes das Instituições de Ensino Superior (Andes-SN), por sua vez, teve seis das suas 20 gestão presididas por mulheres, sendo Marina Barbosa Pinto presidenta em duas ocasiões. A partir das eleições deste ano do sindicato, começará a valer o fator paridade de gênero: a composição das funções da presidência, secretaria e tesouraria deverá contar com, no mínimo, seis mulheres. Já nas secretarias regionais, elas deverão ocupar, pelo menos, 36 cargos, sendo ao menos um de 1ª vice-presidente e um de 2ª vice-presidente. Bom destacar que as duas chapas concorrentes à diretoria do Andes-SN são encabeçadas por mulheres candidatas à presidência.
*Crédito da foto em destaque: registro da Greve Geral de 1917. Crédito: arquivo Edgard Leuenroth
(Assessoria de Comunicação da ASPUV)