Em segundo caso nos últimos dias, professora da UFPA e marido são agredidos por fazendeiro da região
Mais um caso de intimidação e ameaça na comunidade da Universidade Federal do Pará (UFPA). Na noite dessa terça-feira (17), a coordenadora do campus Altamira, Maria Ivonete Silva, e seu marido, Eduardo Modesto, foram atacados e ameaçados em um restaurante pelo fazendeiro Silvério Fernandes, que já ocupou o cargo de vice-prefeito do município. Eduardo chegou a ser agredido fisicamente por duas vezes, uma delas já dentro da delegacia.
Segundo a Associação dos Docentes da UFPA (Adufpa), essa foi uma retaliação à realização do evento Amazônia, centro do mundo, que reuniu, no mês de novembro, centenas de indígenas, ribeirinhos, agricultores e ativistas sociais no campus Altamira, para defender a região amazônica contra grileiros, latifundiários e os grandes projetos. Fazendeiros tentaram, inclusive, tumultuar a abertura da atividade, interrompendo e vaiando falas de participantes. Houve discussão e empurra-empurra.
A entidade fala em “escalada de violência e intolerância que tem ocorrido nos últimos meses na Amazônia, em especial na região de Altamira, que tem sido palco da implantação de grandes projetos, ao mesmo tempo em que grileiros e latifundiários invadem terras, expulsam os povos originários de seus territórios e promovem assassinatos no campo, com o beneplácito de uma parcela significativa do poder público”.
Segundo caso nos últimos dias
Este é o segundo episódio envolvendo ameaças e intimidações de grandes fazendeiros e ruralistas a professores da UFPA nos últimos dias. No início do mês, Anderson Serra, docente no campus Altamira, e Gilberto Marques, atual diretor-geral da ADUFPA, passaram a ser intimidados após a gravação de um vídeo, no qual declaram apoio à luta dos trabalhadores rurais do município de Anapu (PA).
Em mensagens e áudios vazados por aplicativos de celular, Anderson e Gilberto são chamados de “bandidos”, “vagabundos” e ainda acusados de “promover a desordem e incitarem ocupações de terras”. Os autores das ameaças chegam a citar, estranhamente, casos de lideranças que foram assassinadas mesmo tendo “costas quentes”. Também defendem que os professores sejam enquadrados na Lei de Segurança Nacional (LSN).
As intimidações começaram após uma visita à comunidade Flamingo, em Anapu. Na oportunidade, os docentes gravaram um vídeo condenando a violência no campo e defendendo a vida dos agricultores e a luta pela reforma agrária, de forma que os trabalhadores rurais possam ter direito de plantar e colher em paz.
O município de Anapu acumula conflitos pela terra e assassinatos no campo há décadas. Em 2005, a missionária norte-americana Dorothy Stang foi executada quando lutava pela constituição dos Projetos de Desenvolvimento Sustentável (PDS). Em 2018, outra liderança religiosa, Padre Amaro, foi criminalizada e presa. Mais recentemente, neste mês de dezembro, o agricultor Márcio Reis e o conselheiro tutelar Paulo Anacleto também foram assassinados. Ambos tinham ligação com a luta pela terra na região.
Conselho da UFPA manifesta preocupação
No último dia 16, o Conselho Universitário da UFPA já havia lançado uma nota, na qual manifestava a sua “grande preocupação a escalada de violência que atinge a Amazônia, sobretudo contra populações tradicionais, bem como ameaças dirigidas a docentes da instituição em atividade na região do Xingu”.
No texto, o conselho diz que “é inaceitável, portanto, que indivíduos e organizações alheios ao ambiente da Universidade queiram impor limites ao trabalho acadêmico e, mais ainda, que ameacem a integridade física de membros da instituição”. Finaliza chamando “a sociedade e as instituições a reagirem energicamente em defesa da vida e em favor da garantia dos direitos de todas as pessoas na Amazônia”.
*Crédito da foto em destaque: Thiago Pelaes / UFPA
(Assessoria de Comunicação da ASPUV com informações da Adufpa e UFPA)