ASPUV sedia 99º Encontro da Regional Leste e debate carreira, organização dos trabalhadores e assédio
A ASPUV recebeu representantes de nove seções sindicais durante o 99º Encontro da Regional Leste do ANDES-SN, realizado na sexta-feira (5) e no sábado (6), na sede social de Viçosa. A atividade, que reúne as seções de Minas Gerais e do Espírito Santo, trouxe com o tema Só a luta muda a vida! e debateu temas com a carreira e o combate ao assédio.
Durante a abertura do encontro, o presidente da ASPUV, Edilton Barcellos, deu as boas-vindas aos visitantes e relembrou a história da seção sindical, que chegou aos 61 anos no último mês. Destacou uma das suas mais emblemáticas lutas ao longo desse período, a pela federalização da então UREMG, que se tornou Universidade Federal de Viçosa em 1969, e a sua participação na criação, em 1981, da Associação Nacional dos Docentes das Instituições de Ensino Superior, hoje ANDES-SN.
“Ao longo de todo esse tempo, temos feito a luta não apenas em defesa da universidade pública, gratuita, de qualidade, laica, socialmente referenciada, mas também em defesa das professoras e dos professores que trabalham nessa universidade. Temos feito uma luta com os técnicos administrativos e com os estudantes da graduação e da pós-graduação. Tentamos encaminhar as nossas lutas sempre com esses setores da universidade”, destacou o presidente da ASPUV.
Também compuseram a mesa de abertura a presidenta da ATENS-UFV, Maria Olímpia Santos, o coordenador-geral do DCE-UFV, Felipe Cauãm, e o diretor-geral da APG-UFV, João Pedro Paixão.
Luta dos trabalhadores e universidade na América Latina
Ainda na sexta, a primeira mesa temática do encontro trouxe como tema Educação superior e organização das(os) trabalhadoras(es) na América Latina, tendo como debatedores o presidente do ANDES-SN, Gustavo Seferian, e o secretário-geral da ASPUV, Cezar De Mari.
O presidente do sindicato nacional iniciou a sua fala relembrando a construção da universidade latino-americana, na América Espanhola, ainda no século XVI, enquanto “uma necessidade de embate, não apenas bélico, mas também ideológico, precisando afirmar a partir daquilo que era o suprassumo da construção de uma sociedade então nascente, que era a sociedade burguesa”. Já no Brasil, o processo foi muito mais tardio, sendo que as experiências universitárias mal alcançaram um século de forma contínua.
“Hoje nós temos talvez a consumação, dentro de uma dimensão objetiva, de um perfil cada vez mais ligado ao conjunto das classes trabalhadoras na composição do professorado nas universidades brasileiras (…), ainda que exista um certo ethos aristocrático e um lugar em que ele se reproduza no que é a própria construção acadêmica dos professores e das professoras nas universidade mais diversas”, disse Gustavo ao enfatizar o reconhecimento da categoria enquanto classe trabalhadora.
O secretário-geral da ASPUV acrescentou sobre a importância de se pensar uma universidade efetivamente brasileira, que seja voltada à realidade nacional, destacando pensadores que colocaram essa questão em evidência como Florestan Fernandes, Anísio Teixeira e Darcy Ribeiro. “Nós (a universidade) temos que olhar mais a realidade brasileira e, a partir da universidade, fazer esse trabalho de interpretação, de compreensão, de tradução da nossa realidade (…). O papel da universidade deveria ser esse, a gente olhar para a realidade nacional”, disse.
Carreira docente
Já no sábado (6), o encontro teve início com a segunda mesa temática, que abordou a carreira docente com o representante do Grupo de Trabalho (GT) Carreira da ASPUV, Thiago de Melo Teixeira da Costa, e a segunda vice-presidenta da Regional Leste, Clarissa Rodrigues.
Clarissa apresentou um retrospecto sobre as discussões do ANDES-SN relacionadas à carreira, destacando que, este ano, será realizado um Conad especificamente para debater sobre o assunto. A diretora lembrou que o 30º Congresso do ANDES-SN foi um marco nessas discussões, ao deliberar um projeto de carreira do sindicato nacional. A construção desse projeto, no entanto, regrediu com a assinatura de um acordo ilegítimo com a Proifes na greve de 2012, que teve impactos progressivos até 2016.
“O governo Lula colocou, lá nas metas, a discussão da reestruturação das carreiras do funcionalismo público e colocou mesas setoriais para discutir carreira. Ele está abrindo as mesas de carreira até agora (…). Isso retoma a discussão lá de 2011. Contando o ano passado e este ano, nós tivemos cinco mesas de carreira (…). Foi então desenrolando, nós, então, apresentamos, em diversas vezes, que nós queríamos uma discussão de carreira e, durante a greve, a discussão foi que a gente tivesse uma temporalidade diferente, ou seja, que a gente discutisse carreira não na temporalidade da greve, mas com mais tempo, com mais prazos”, destacou Clarissa.
Thiago começou a sua participação destacando os trabalhos do GT Carreira, criado recentemente durante a greve. Frisou que o assunto envolve vários fatores, como as funções do ensino, da pesquisa e da extensão, além da própria malha salarial. Nesse sentido, colocou duas questões: a construção da carreira que queremos e as estratégias para alcançá-la.
“Quando a gente conversa sobre a carreira como um todo, especialmente sobre a malha, a gente vai tangenciar um ponto que é fundamental: a própria manutenção da universidade ou da educação superior ou da educação pública enquanto a gente conhece. Parte dos nossos problemas e das nossas questões hoje, que ,às vezes, limitam, às vezes, geram um embate com a própria sociedade, tem a ver, por vezes, com a própria desestruturação. Isso a gente vê no cotidiano: colegas que se dedicam mais a projetos ligados à extensão, por exemplo, porque tem uma bolsa, porque não estão conseguindo isso para dentro da carreira ou a própria dinâmica da pesquisa e da pós-graduação, que virou um novo ponto de prestígio dentro da universidade”, destacou o representante do GT Carreira.
Combate ao assédio
Ainda no sábado, foi realizada a última mesa temática sobre o combate ao assédio. Para ela, foram convidadas as diretoras do ANDES-SN, Caroline de Araújo de Lima e Jacyara Paiva, a integrante do Conselho Deliberativo da ASPUV e professora do Departamento de Direito, Débora Madeira.
Caroline iniciou as discussões pontuando que os casos de assédio envolvem hierarquias estabelecidas e, via de regra, há uma tentativa de descredibilização das vítimas, de modo que desistam do processo. Na sua avaliação, os sindicatos devem realizar campanhas de conscientização, preferencialmente junto aos demais movimentos e representações da instituição: “como as nossas seções sindicais devem lidar com isso? E aí as campanhas de informação são fundamentais, porque a gente só consegue lidar com esse tipo de violência quando a gente fala dele”.
Na sequência, Débora lembrou que a UFV editou, há pouco, uma resolução que trata do combate às opressões de gênero, mas que, no ambiente acadêmico, o assédio ainda é um assunto velado. “Nós docentes também precisamos de espaços formativos para rever as nossas práticas em sala de aula. De que forma nós estamos construindo esse espaço (educativo sobre assédio)? No Direito, a parte punitiva ela é importante. Mas, antes disso, nós, docentes, temos que nos unir para fazer o que nós sabemos fazer: que é a educação”, disse.
Encerrando as apresentações, Jacyara relembrou o processo de perseguição, que sofreu e quase levou à sua exoneração na Universidade Federal do Espírito Santo (UFES). “Quando eu sofro assédio moral, eu tento falar, mas as pessoas não conseguem me ouvir, porque é tão naturalizado e banalizado (…). A Diretoria só foi descobrir que era assédio quando eles me viram totalmente desestruturada. O processo de desumanização é muito grande”, contou . Após uma ampla mobilização denunciando as irregularidades do caso, o processo de exoneração foi revertido.
Nos próximos dias, a ASPUV disponibilizará a gravação das três mesas do 99º Encontro da Regional Leste no seu canal no YouTube.
(Assessoria de Comunicação da ASPUV)
Parabéns à equipe de Comunicação pela excelente cobertura do 99º Encontro da Regional Leste. Da mesma forma à secretaria e ao apoio pela organização do evento. A ASPUV fez uma bonita recepção aos visitantes, criando um espaço de reflexões e de planejamento de muito boa qualidade. Parabéns a todos os envolvidos.