Além da baixa representatividade, palestrante mostra como as mulheres sofrem com violências sexistas na política
A dificuldade de acesso a cargos políticos e as mais diversas formas de violência encontradas pelas mulheres quando chegam a esses postos foram debatidas pela coordenadora do Núcleo de Estudos e Pesquisas sobre a Mulher da UFMG, Marlise Matos, em uma palestra realizada pela Aspuv nessa quarta-feira (21). A professora destacou como a política brasileira bem como outras áreas no país ainda são desiguais e hostis para elas, apesar dos avanços vivenciados nos últimos anos, frutos estes do movimento de mulheres.
Matos começou sua fala mostrando indicadores que revelam a desigualdade de gênero em diferentes questões no Brasil. Entre as informações destacadas, estão o fato de as mulheres, apesar de hoje terem um nível de escolaridade mais alto, continuarem recebendo salários mais baixos que os homens e o de os lares chefiados por elas ainda serem os que mais sofrem com problemas de saneamento básico. A professora reforçou também como a situação é ainda pior para as mulheres negras. A pesquisadora lembrou que elas ocupam a base da pirâmide social brasileira enquanto os homens brancos, o topo. E por elas estarem justamente nessa base são a parcela da população, que mais sofre com projetos como a reforma trabalhista e a da Previdência.
Após a exposição desses indicadores, Matos entrou especificamente nas discussões sobre a presença feminina na política. Além de destacar como é baixo o percentual desses cargos ocupados por mulheres (no Brasil, elas representam menos de 10% dos cargos parlamentares, o que coloca o país na vice-lanterna entre os latino-americanos e caribenhos quando o assunto é participação feminina na política), no momento em que elas chegam a esses postos são vítimas de diversas formas de violência, muitas delas associadas simplesmente ao fato de serem mulheres.
Em um estudo, a professora analisou a violência política e a sexista sofrida por três presidentes latino-americanas: Dilma Rousseff, Cristina Kirchner e Michelle Bachelet. Foram identificados 11 mecanismos distintos de violência, sendo oito ligados ao gênero. Entre eles, estão a vinculação a uma figura masculina, a simulação/apologia ao estupro e outras formas de violência sexual, a classificação como bruxa/histérica/louca e o apelo a estereótipos vinculados à corporalidade. Matos destacou ainda como acredita que as mulheres são fundamentais no processo de construção de uma sociedade igualitária e inclusiva e como o movimento feminista está à frente dessa luta.
Após a fala da convidada, o debate foi aberto a perguntas do público. A atividade dessa quarta-feira teve mediação da professora do Departamento de Ciências Sociais, Daniela Rezende, e encerrou a programação da Aspuv neste mês da mulher. A palestra disponível no canal da Aspuv no Youtube (para acessar, clique aqui).
(Assessoria de Comunicação da Aspuv)