100 anos de Paulo Freire: o Patrono da Educação Brasileira
O Brasil celebrou, nesse domingo (19), o centenário de nascimento de um dos seus mais influentes pensadores: Paulo Freire. Natural de Recife (PE), Freire é um dos grandes nomes da educação mundial e ficou conhecido internacionalmente pela sua pedagogia, pautada na educação enquanto caminho para a emancipação dos sujeitos e transformação da realidade. O educador brasileiro é um dos teóricos mais citados no mundo e coleciona prêmios, como o Educação para a Paz da Unesco e mais de 40 títulos de Doutor Honoris Causa.
Freire uniu um apurado trabalho teórico à prática. Em sua profícua trajetória, tem destaque um método revolucionário de alfabetização. Em 1963, na cidade de Angicos (RN), a concepção foi colocada em prática alcançado o incrível resultado de 300 trabalhadores alfabetizados em 40 horas. O método freiriano se valia do uso de palavras pertencentes ao cotidiano dos alunos, as chamadas “palavras geradoras”. Essas palavras eram, então, divididas em partes, a partir das quais eram identificadas as famílias fonéticas e formados novos vocábulos.
A experiência de Angicos serviu como modelo para um Plano Nacional de Educação, que acabou precocemente abortado em função do Golpe Militar de 1964. O regime ditatorial considerou o método subversivo e perseguiu seus participantes. Freire foi preso e acabou exilado.
Educação emancipatória
O método de alfabetização é uma parte de um trabalho ainda mais amplo e potente, que defendia uma educação amorosa, crítica e pautada no diálogo. “Quem ensina aprende ao ensinar e quem aprende ensina ao aprender”, diz uma das frases mais famosas do educador. “Freire foi um educador atuante em uma perspectiva de educação que buscava colocar no centro da educação pedagógica o direito a uma educação emancipatória”, afirmou a professora a Faculdade de Educação da Universidade Federal de Goiás (UFG), Maria Margarida Machado, em entrevista ao Andes-SN.
Para a docente, defender a concepção de um educação emancipadora representa enfrentar as grandes limitações econômicas e sociais brasileiras. Machado explica que Freire combatia não apenas a opressão, que decorre da necessidade financeira e da limitação de acesso aos bens materiais, mas também reafirmava a necessidade de combater a mentalidade conservadora: “a mentalidade conservadora, tradicional, tem a ver com o que o sujeito aprende com a sua família, na religião e no trabalho. Nessas relações, essa convivência ao invés de torná-lo um sujeito livre e amoroso, o aprisiona a um conjunto de preceitos morais, éticos e céticos que o distancia de outros seres humanos”.
Crítica à educação bancária e aprender para transformar
Uma das principais contribuições de Paulo Freire é a sua crítica à educação tradicional, conceituada, na obra Pedagogia do Oprimido, como “educação bancária”. Segundo o pedagogo, nessa forma, o aluno é tratado como um lugar onde se depositam verdades. Trata-se de uma educação sem diálogo. “(Para Freire) aprende-se na relação com o outro, no diálogo com outro, na aproximação dele com o conhecimento do outro. Esse aprender coletivo tem a ver com o conhecimento sistematizado pelas outras pessoas. Saber que você precisa escutar e aprender com o outro é fundamental para romper com uma lógica de educação tradicional”, explicou a professora.
Outra ideia-chave na na obra de Paulo Freire é a de que se aprende para transformar a realidade. “Nesse aspecto, é fundamental a consciência crítica e de sujeito histórico. Nesta perspectiva, nós estamos anos luz distantes, em toda nossa formação na educação brasileira, seja da educação infantil até a superior, do princípio de empoderar o sujeito para que ele possa se perceber como sujeito transformador da realidade”, afirmou a docente da UFG.
Quem foi Paulo Freire?
Paulo Freire nasceu em 1921, em Recife (PE). Com o agravamento da crise econômica mundial iniciada, em 1929, e a morte do seu pai, quando tinha 13 anos, passou a enfrentar dificuldades econômicas. Formou-se em Direito, mas não seguiu carreira, encaminhando a vida profissional para o magistério. Em 1964, o golpe militar o surpreendeu em Brasília (DF), onde coordenava o ainda incipiente Plano Nacional de Alfabetização do presidente João Goulart. Freire passou 70 dias na prisão antes partir para o exílio.
Em 1968, no Chile, escreveu o seu livro mais conhecido, Pedagogia do Oprimido. Também ministrou aulas nos Estados Unidos e na Suíça e organizou planos de alfabetização em países africanos. Com a anistia, em 1979, voltou ao Brasil, integrando-se à vida universitária. Foi secretário municipal de Educação de São Paulo (SP), na prefeitura de Luiza Erundina e teve obras traduzidas em mais de 20 idiomas. Morreu em 1997, de infarto. Em 2012, foi sancionada a Lei 12.612, que o declarou o patrono da educação brasileira.
Para estudar Paulo Freire
Maria Margarida Machado indicou três leituras para quem quer conhecer melhor a teoria de Paulo Freire. O livro Pedagogia do Oprimido, para a docente, é a base da formação humanista de Freire, além da sua principal obra, e traz as principais referências que ele estudou e com quem aprendeu para pensar a obra. Pedagogia da Esperança traz uma releitura do livro anterior, simplificando-a. Já Pedagogia da Autonomia, último que o Paulo Freire escreveu, dialoga com professores sobre os aspectos da prática docente. “Essa trilogia é fundamental para ser lida e pensada no contexto em que foram escritas”, concluiu a professora.
O legado de Paulo Freire
Em abril de 1990, Paulo concedeu uma entrevista para a primeira edição da Revista Universidade & Sociedade, publicação do Andes-SN. Para ler, clique aqui.
E, em julho do ano passado, durante o 8º Conad Extraordinário, o sindicato nacional lançou um número da revista, dedicado ao tema O Legado de Paulo Freire para a Educação. Com mais de 25 textos, entre artigos e resenhas, a revista traz diversas reflexões sobre as contribuições freirianas para a educação, a universidade pública e a militância sindical. Confira neste link.
(Assessoria de Comunicação da ASPUV a partir de texto do Andes-SN)