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Seção Sindical dos Docentes da UFV
Manifesto da Plenária Nacional em Defesa da Educação Pública

O Andes-SN participou, junto a outras entidades representativas, da Plenária Nacional da Educação, realizada de forma online na última quarta-feira (16). Também estiveram presentes o Sindicato Nacional dos Servidores Federais da Educação Básica, Profissional e Tecnológica (Sinasefe), Federação de Sindicatos de Trabalhadores Técnico-administrativos em Instituições de Ensino Superior Públicas do Brasil (Fasubra), União Nacional dos Estudantes (UNE), Federação Nacional dos Estudantes do Ensino Técnico (Fenet) e Associação Nacional de Pós-Graduandos (ANPG).

Ao fim dos debates, as entidades divulgaram manifesto, destacando a luta pela recomposição orçamentária das universidades e revogação da Emenda Constitucional nº 95 (Teto de Gastos), em defesa da autonomia universitária e pela vacinação contra a Covid-19 para toda a população.

Leia a seguir.

MANIFESTO DA PLENÁRIA NACIONAL EM DEFESA DA EDUCAÇÃO PÚBLICA

ANDES-SN, SINASEFE, FASUBRA, UBES, FENET, UNE e ANPG

O ano de 2020 foi extremamente desafiador para a educação pública e para o conjunto da classe trabalhadora em nosso país diante da pandemia do novo coronavírus (COVID-19), que escancarou ainda mais as contradições do projeto societário no qual os lucros se impuseram sobre o direito prioritário da vida.  Iniciamos  2020  com  a  perspectiva  de  importantes  lutas  a  serem  travadas,  em  especial  contra  as retiradas de direitos e o avanço da extrema direita no país, considerando que, ainda em março, na semana que antecedeu o fechamento das instituições de ensino, ANDES-SN, FASUBRA e SINASEFE lançaram o  Comando  Nacional  de  Greve  e  Mobilizações,  na  expectativa  de  entrarmos  em  um  necessário  e desafiador  crescente   das   lutas.   Na  semana   seguinte,   fomos   tomado(a)s   por   uma   nova  realidade, absolutamente excepcional, imposta  pelo isolamento social por conta da pandemia da COVID-19, que, pelos números oficiais, já matou mais de 180 mil pessoas em todo o Brasil, sem contar as subnotificações.

Mas  nem  por  isso  nos  calamos,  e  mesmo  nos  últimos  dias  deste  ano,  reafirmamos  nosso compromisso  de  luta  em  defesa  da  educação  pública.  Por  isso,  na  noite  de  16  de  dezembro  de  2020, ANDES-SN, SINASEFE, FASUBRA, UBES, FENET, UNE e ANPG organizaram a Plenária Nacional virtual  em  Defesa  da  Educação  Pública  para  debatermos  as  consequências  dos  cortes  orçamentários propostos   pelo   atual   governo   para   o   ano   de   2021,   os   ataques   à   autonomia   e   democracia   das Universidades,  Institutos  Federais  e  CEFET  que  não  tiveram  suas  consultas  respeitadas  e,  ainda,  a necessidade  de  nos  mobilizarmos  para  que  o  retorno  das  aulas  presenciais  aconteça  somente  após  a vacinação para todas e todos em nosso país.

1)  Lutamos para recompor o orçamento das universidades públicas e pela revogação da EC nº95 de 2016. 

A  vigência  da Emenda  Constitucional nº  95  de  2016  continua  provocando  queda  sucessiva  nos investimentos  e  no  custeio  das  políticas  sociais,  o  que  com  a  educação  não  é  diferente.  O  orçamento previsto para 2021  é maior que o de 2020, mas representa cerca de 85% da dotação de 2015 em termos reais (valores corrigidos pela inflação). É cerca de R$ 11 bilhões a menos que o valor real de 2012. Além da  queda,  que  afeta  diretamente  os  investimentos  e  o  custeio,  parte  significativa  do  recurso  previsto dependerá  de  aprovação  de  crédito  suplementar  por  parte  da  Câmara  dos  Deputados.  Temos  R$  19,9 bilhões  que  precisam  ser  autorizados  pelo  Legislativo.  Isso  acontece  ano  após  ano  devido  à  chamada Regra  de  Ouro,  segundo  a  qual  o  governo  federal  está  proibido  de  se  endividar  para  custear  despesas correntes.

Essa situação tornará a manutenção das universidades algo próximo do insustentável. A UFRJ terá queda de 32% em relação ao valor atualizado de 2014. Na UFF, cujo melhor desempenho no custeio foi em 2013, a redução será de 25% em relação a este ano. NA UFPA a situação é ainda mais grave, porque o custeio da Universidade em 2021 corresponderá a 63% do valor destinado em 2013. O custeio sofre um corte de 15% em relação ao ano passado, em um orçamento que já era bastante restrito.

Por  isso,  as  entidades  da  Educação  que  subscrevem  esta  carta  conclamam  toda  a  comunidade acadêmica  a lutar pela  recomposição  orçamentária,  numa mobilização  unitária  que  não permita  que os cortes orçamentários se aprofundem ainda mais. Os cortes previstos são ainda mais cruéis se lembrarmos que,  diante  da  pandemia,  o  custeio  deveria  estar  sendo  reforçado  para  garantir  condições  equivalentes com   a   necessidade   do   cumprimento   de   regras   sanitárias   necessárias   à   segurança   de   estudantes, técnico(a)s-administrativo(a)s, professore(a)s e de suas famílias.

E, ao mesmo tempo em que lutamos pela recomposição de nossos recursos, devemos reforçar a luta pela  revogação  da  EC  nº  95,  dispositivo  que  constitucionalizou  o  desmonte  dos  serviços  públicos  e  a primazia do capital financeiro na destinação do fundo público brasileiro.

2)  Autonomia  e democracia nas Instituições Públicas de Ensino. Pela posse do(a)s reitore(a)s eleito(a)s nas Universidades, Institutos e CEFET

As instituições públicas de ensino estão vivenciando um momento sem precedentes em sua história recente. Além de estarmos atravessando os desafios  da COVID-19, que tem alterado os modos de vida de toda população e ampliado as desigualdades que marcam esse país, o governo autoritário, negacionista e genocida  de  Bolsonaro/Mourão  já  interveio  em  mais  de  19  instituições  em  todo  país,  entre  elas Universidades,  Institutos  Federais  e  CEFET.  Isso  fere  a  autonomia  e  representa  um  grave  ataque  à democracia interna das instituições públicas.

A  escolha  sobre  quem  vai  estar  à  frente  dessas  instituições  é  uma  prerrogativa  da  comunidade acadêmica.  Ao  não  nomear  e  empossar  reitoras  e  reitores  escolhido(a)s  pela  maioria  dentro  das  suas comunidades, o governo materializa suas intenções. Intervém política e ideologicamente nas instituições públicas  de  ensino  com  o  objetivo  de  instrumentalizar  Universidades,  Institutos  Federais  e  CEFET  a serviço de um projeto de educação elitista, que atenda aos interesses do mercado, que despreza a ciência e,  principalmente,  desconsidera  o  desejo  das  comunidades  escolares  acabando  com  a  autonomia  e  a democracia interna das instituições públicas.

As entidades da Educação exigem o cumprimento constitucional da autonomia nas Universidades, Institutos e CEFET e chamamos a necessidade de acabar com a lista tríplice e a indicação presidencial. Os processos para escolha à reitoria devem começar e encerrar nas comunidades acadêmicas.

3)  Pandemia e Educação: vacinação para todas e todos já

São  mais  de  180  mil  mortos  no  Brasil.  Na  pandemia  perdemos  familiares,  amigo(a)s  e  também empregos.  Não  bastassem  os  ataques  ao  Sistema  Único  de  Saúde  (SUS)  e  as  diversas  ameaças  para privatizar o sistema de Saúde Público, do qual 7 em cada 10 brasileiro(a)s dependem, agora Bolsonaro e o Ministério da Saúde querem fazer um debate ideológico sobre a vacina. Ao mesmo tempo em que não temos  um  plano  sólido  de  imunização  da  população,  o  Ministério  da  Educação  propõe  que  as  aulas retornem presencialmente em 1º de Março de 2020.

Fomos  surpreendidos  no  dia  1º  de  dezembro,  pela  publicação  da   Portaria  nº  1.030/2020,  do Ministério da Educação. A referida norma estabelece, como regra, o  retorno presencial das atividades nas instituições de ensino que fazem parte do sistema federal, ou  seja, todas as instituições federais de ensino superior – Universidades e CEFET -, deverão retornar no  formato presencial a partir de março de 2021.

A portaria reafirmou a postura negacionista do governo federal, que durante todo o ano de 2020 trabalhou em favor do vírus e contra a saúde de  todo(a)s o(a)s brasileiro(a)s. Um governo que nega a ciência  e  desarma  todos  os  esforços  para   mitigar  a  disseminação  do  vírus  em  nossa  sociedade. Essa postura do governo põe em risco a saúde do(a)s docentes, estudantes e técnico(a)s-administrativo(a)s. No momento  em  que  os  casos  da  COVID-19  voltaram  a  crescer,  que  os  índices  de  transmissão  também sofreram  aceleração  e que o sistema público e  privado de saúde voltaram a ficar saturados,  reabrir de forma  presencial instituições de ensino que congregam milhares de pessoas todos os dias não só é uma temeridade sanitária, como um ato criminoso.

Além  disso,  a  Portaria  é  um  ataque à  autonomia  universitária, cujos  órgãos  dirigentes têm  sido cautelosos  e  responsáveis  durante  todo  o  período  da  pandemia.   A  revisão  da  Portaria,  resultado  da pressão  das  entidades  sindicais,  populares  e  de  grupos  de  parlamentares,  não  eliminou  o  problema  da garantia de um retorno somente após a imunização em massa da população. Trata-se aqui da defesa da vida.

Por  isso,  finalizamos  essa  carta  reafirmando  que  somente  teremos  segurança  para  retorno presencial com a vacinação em massa de nossa população.

 

Defendemos a vida. Defendemos a ciência.

Não aceitaremos imposição de retorno por parte de um governo que menospreza a gravidade da pandemia.

Pela recomposição do orçamento da educação

Pela Autonomia e democracia das instituições públicas de ensino.

 

 

16 de dezembro de 2020.

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