Andes-SN vê com preocupação proposta de EaD nas universidades
O Ministério da Educação (MEC) liberou, por meio de uma portaria publicada nessa quarta-feira (18), as instituições de ensino superior do sistema federal a substituírem as aulas presenciais pela modalidade a distância.
De acordo com o texto, a autorização é válida por 30 dias, podendo ser prorrogada, a depender de orientação do Ministério da Saúde e dos órgãos de saúde estaduais, municipais e distrital. As instituições que optarem pela substituição de aulas precisam entrar em contato com o MEC em até 15 dias.
A medida, no entanto, é vista com apreensão pelo Sindicato Nacional dos Docentes das Instituições de Ensino Superior (Andes-SN). Embora de caráter excepcional, há a preocupação que o governo esteja aproveitando o momento para implementar algo que já tinha como objetivo.
“Esse governo já tinha, anteriormente, aprovado, através de uma indicação do MEC, que as aulas na graduação poderiam ter até 40% de ensino à distância. Sempre tivemos muita preocupação com isso, porque para nós não é Educação a Distância (EaD), é ensino a distância enquanto ferramenta metodológica complementar e não como conteúdo de disciplina. Ou seja, eu enquanto docente posso utilizar ferramentas virtuais para fazer um trabalho com meus estudantes, mas não que a disciplina seja pautada por isso”, explica a diretora e integrante da coordenação do Grupo de Trabalho de Políticas Educacionais do Andes-SN, Elizabeth Barbosa.
A docente ressalta que instituições federais de ensino mal possuem estrutura para que os estudantes possam utilizar ferramentas virtuais dentro da universidade. Aponta ainda que a orientação do MEC ignora o fato de que uma parcela dos estudantes das universidades federais não tem à sua disposição os instrumentos necessários para a EaD.
“A gente já vive com cortes absurdos nas universidades, institutos e Cefet, que não são de agora, mas que se intensificaram principalmente nesse último governo e depois da EC 95 (emenda constitucional que impôs o teto de gastos). Não temos condição de garantir que o conteúdo à distância chegue a todo o corpo discente. Nós temos hoje na universidade pública muitos alunos vindos da classe trabalhadora, como essa população vai ter acesso a essas ferramentas para dar conta de uma disciplina? Eu vejo com muita apreensão isso, porque acentua a precarização de nosso trabalho e também da qualidade de ensino ofertada”, avalia.
Respeito à autonomia universitária
Para a docente, o governo precisa respeitar a autonomia das instituições, de modo que elas discutam internamente como será a reposição de aulas desse período. Elizabeth aponta ainda a preocupação de que essa “oferta” acabe se transformando em imposição.
“Temos que adotar uma postura dentro das instituições de não acatar isso e, ao contrário, de repudiar essa medida que compromete mais ainda a formação dos nossos alunos, a qualidade das nossas aulas e tudo o que defendemos dentro da universidade pública. Acho, ainda, que não era isso que o governo deveria estar pautando neste momento. O Governo Federal deveria era revogar a EC 95 para realmente investir na universidade pública, na pesquisa pública, para darmos conta do que essa pandemia vai causar, socialmente e economicamente neste país”, concluiu.
Nota de repúdio à proposta de EaD nas universidades e institutos federais
A diretoria do Andes-SN também divulgou uma nota de repúdio à portaria. Ela pode ser lida aqui.
*Credito da foto em destaque: USP Imagens
(Assessoria de Comunicação do Andes-SN com edições da ASPUV)