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Seção Sindical dos Docentes da UFV
Marcha das Margaridas reúne 100 mil trabalhadoras rurais em Brasília

Na última quarta-feira (14) Brasília foi tomada pela sexta edição da Marcha das Margaridas, tradicional manifestação de trabalhadoras do campo. A maior ação conjunta de mulheres trabalhadoras da América Latina reuniu na Esplanada dos Ministérios de agricultoras familiares às pescadoras, passando pelas quilombolas, indígenas e ribeirinhas. 

Este ano a marcha abordou a importância da agroecologia e o enfrentamento à violência contra a mulher no campo, e foi composta por caravanas de todo país. Viçosa e outras cidades da Zona da Mata mineira também estiveram presentes. Uma das presentes foi Priscila Dorella, Professora do Departamento de História da UFV e integrante da diretoria da Aspuv. Confira abaixo o seu relato:

Nota sobre a Marcha das Margaridas

“O que importa nos incontáveis ​​pequenos feitos de pessoas desconhecidas… é que elas estabelecem a base para os eventos significativos que entram para a história. Essas são as pessoas que mudaram o passado. Elas são também as responsáveis por fazer mudanças no futuro.”

Howard Zinn

Ocorreu em Brasília, no dia 14 de agosto de 2019, a maior marcha de mulheres da América Latina – a Marcha das Margaridas, que mobilizou em sua sexta edição mais de 100.000 mulheres do campo, das florestas e das águas com o apoio de sindicatos e movimentos sociais. O nome é em homenagem a Margarida Alves, líder sindical nordestina assassinada no ano de 1983 por defender os direitos das trabalhadoras e trabalhadores rurais. A indignação contra os inúmeros retrocessos envolvendo a perda de direitos adquiridos, que ameaçam inclusive a vida de populações vulneráveis, como as indígenas, deu o tom da marcha. O intuito era dialogar com o governo a partir de demandas específicas elaboradas pelas próprias mulheres, mas como o governo não as recebeu para que pudessem entregar as suas pautas, não houve negociação, e sim contestação.

Uma contestação fundamentada na luta genuína de quem sente na pele a dor do desamparo das autoridades políticas e ainda consegue encontrar energia para caminhar com determinação por um Brasil mais justo. Como é possível ficar inerte diante do desmatamento intensivo da Amazônia, do aumento do uso de agrotóxicos, da impossibilidade de uma aposentadoria digna, da falta de recursos para educação e saúde, do aumento de casos de abuso sexual, do crescimento da violência no campo pelo uso de armas, da precarização dos sindicatos e da criminalização de muitos movimentos sociais? Mas como é possível também acreditar que marchar diante desse cenário pode ter um caráter social transformador?

Foto: Gustavo Amora – COMOVA – 14/08/2019

Caminhamos na incerteza, não há nenhuma garantia, mas caminhamos nutrindo a esperança que se traduz no movimento necessário para a mudança social. É cada vez mais frequente no Brasil seguirmos em marcha pelas ruas em prol da sociedade que desejamos. Apesar de muitas das reivindicações contra as injustiças sociais não serem atendidas pelos governos ou nem mesmo mobilizarem amplamente a sociedade, seguimos em marcha. Mas por que seguimos em marcha? Talvez porque compreendamos que é também nas ruas que se manifesta a democracia. Todos independente de raça, gênero ou classe podem participar da vida em comunidade caminhando com conhecidos e desconhecidos, e ouvindo suas vozes a partir da presença física. Caminhar pode ser então um ato político e uma forma de fazer a diferença. Quando nós caminhamos como forma de protesto, como afirma Rebecca Solnit, em seu livro A História do Caminhar, nós estamos dando vazão as nossas crenças a partir dos nossos corpos e esse movimento se torna uma forma de discurso. As distinções entre palavras e ações começam a se diluir criando assim condições para uma transformação social. É a magia das ruas, segundo a historiadora, que mescla mensagens e epifanias potentes para a conquista de uma vida melhor.

Seguiremos em marcha!

Priscila Dorella

 

(Assessoria de Comunicação da ASPUV)

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